"Eu Também Sorri Para Ela"
Tem uma mulher que vejo no ônibus, ela sempre usa conjuntos combinando a mesma cor, seus cabelos são longos e ela sempre carrega uma “piranha” na alça da bolsa. Eu acho ela linda, apesar de não ser uma garota de 18 anos em seus primeiros anos de faculdade, como eu, vejo nela um sorriso jovem em todas as manhãs enquanto caminha com as mulheres que descem conosco no mesmo ponto. Poderia escrever um conto sobre cada uma delas, suas conversas no ônibus lotado, as quais escuto com ávido interesse, mas hoje a mulher dos conjuntos sorriu pra mim. Dessa vez, como em algumas poucas vezes, ela não usava um conjunto e sim uma jaqueta jeans comprida, com escritas em tinta branca nas suas costas.
Vi nela um ar de independência, mas não o tipo que se espera de uma mulher como ela. Se trata de uma independência que somente aquela jaqueta permitiria, uma independência que fotografei no seu sorriso, algo que ultrapassa as barreiras da rudeza, do individualismo, uma independência com ar de liberdade, e essas características sorriam para mim. Então, percebi que também as estou conquistando.
Sinto os cheiros de combustível e motor velho no ônibus, como ela, e para mim esse é o cheiro da independência e da liberdade, assim como o sopro do vento no fim da tarde, nos meus caminhos diferentes para a faculdade (pois nunca faço o mesmo caminho para não enjoar). A liberdade cheira como o perfume do meu namorado ao estar com ele, no carona ou na garupa, livre e apaixonada. Cheira ao interior do Tempra Ouro 1996 e do banco de couro, com certeza.
Passei tanto tempo questionando-me sobre minha independência, sobre minha liberdade… Fiz 18 anos e me questionei se isso significaria alguma coisa, mas no fundo eu sei que sou livre exatamente como devo ser agora, em cada ida ao trabalho e cada caminhada pela cidade, em cada volta no carro do meu namorado, porque apesar de não dirigir, sinto o cheiro, sinto cada vibração e cada som que grita que estou exatamente onde devia estar. Estar aqui foi escolha minha, pois me arrependi e escolhi seguir em frente. Eu sei disso agora. Eu sou exatamente como a mulher dos conjuntos, eu sei porque eu também sorri para ela.
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